sexta-feira, 5 de junho de 2009

Ná Ozzetti - Balangandãs

Carmen Miranda faria 100 anos em 2009. E ela merece todas as homenagens que estão lhe rendendo e muitas mais quantas vierem! Porque foi ela a responsável por muito do que se conhece hoje de samba, de brasilidade, de tropicalidade, de brejeirice etc. Além de ter levado o nome (e a música) do Brasil para o exterior, em retumbante sucesso pelos Estados Unidos, ela foi também um estouro por aqui! Se, em Holywood, chegou a ser a mulher mais bem paga dos EUA, no Brasil foi a cantora que imortalizou pérolas como "Tico-tico no fubá", "Camisa listada", "E o mundo não se acabou" etc. Só que foi com "O que é que a baiana tem?" que a coisa mudou.

Carmen estava escalada para participar de mais um filme musical, cantando "Na Baixa do Sapateiro", de Ary Barroso. Retratando um ambiente baiano estilizado, o cenário estava pronto, esperando apenas o OK do diretor, quando Ary pediu mais dinheiro para liberar sua música. O produtor se negou a pagar e foi a deixa para um novo compositor baiano entrar com uma de suas novas composições. Ele era Dorival Caymmi e a canção, "O que é que a baiana tem?". Nela, Carmen ia explicando - didaticamente, como convém a um filme americano sobre uma figura brasileira - os componentes do traje típico de uma baiana: pano-da-costa, bata rendada, sandália enfeitada, brincos de ouro etc. A letra é longa e Carmen não conseguia decorar a ordem em que eram citados os elemendos. Daí Caymmi ficava atrás da câmera, apontando para o pulso, para o peito, para os pés, indicando o que deveria ser dito. Nessa dinâmica, o compositor teve a ideia de sugerir a Carmen alguns trejeitos de braços e mãos e uns olhares cestrosos, de rabo de olho. Pronto! Estava criada a marca registrada de Carmen! A cantora e o compositor se tornaram amigos e gravaram várias músicas juntos, em compactos de imenso sucesso na época.


Só que as infinitas gravações que Carmen Miranda fez em várias gravadoras são quase todas de má qualidade. Claro... foram feitas em décadas remotas do século passado, quando a música gravada ainda era uma coisa complicada. Donde estava faltando no mercado do disco um album assumidamente em homenagem a Carmen, com uma grande cantora, arranjos de respeito e repertório bem escolhido. Bom, esse disco chegou! Chama-se Balangandãs e a grande cantora é Ná Ozzetti.

Usei a palavra "assumidamente" porque Ney Matogrosso já havia gravado um disco (Batuque) com várias músicas "de" Carmen, tendo posado de pulseiras na capa, ma sempre disse que não era uma releitura de sua obra. Tudo bem, Ney, você pode. Mas a vez é de Ná Ozzetti, que acertou em cheio!

Dona de uma afinação impecável, um timbre agudo, uma dicção e uma emissão límpidas e um fraseado ligeiro (Carmen tinha tudo isso também), Ná é cantora que passeia por vários campos. Já gravou sambas-canções antigos, já foi musa da Vanguarda Paulistana, já fez releituras da obra de Rita Lee etc. Em Balangandãs, ela está escoltada por ótimos músicos e traz canções clássicas, naturalmente associadas à pequena notável, como "Chattanooga choo-choo", "Tic tac do meu coração" e mais treze delas.

Vale comentar os arranjos do disco. Não se procurou recriar o estilo musical que quase sempre acompanhava Carmen. Tampouco se optou pelo samba "moderno" que se faz hoje em dia, com uma limpeza quase higiênica na percussão e na harmonia. Menos ainda optou-se pela modernidade esvaziada dos arranjos supostamente atuais, com batidas eletrônicas e orquestração esdrúxula. Ao mesmo tempo, tudo isso está no disco, mas com comedimento, ponderação e bom gosto. O coro masculino que aparece em "Touradas em Madri" remete inevitavelmetne ao Bando da Lua, que acompanhou Carmen por muitos anos. A limpeza dos arranjos é também inevitável em nossos dias, mas não chega a tirar a graça do samba. E os arranjos são, sim, modernos e atuais, sem tentar recriar a roda. São solos de guitarra misturados ao cavaquinho mais tradicional, por exemplo.

Carmen deve estar feliz, revirando os olhinhos onde quer que esteja. Porque Ná Ozzetti gravou um lindo disco em homenagem a quem foi, sem dúvida, uma das mais importantes figuras da arte brasileira.

2 comentários:

Anônimo disse...

Ããããããããããã, tô gostando de ver: escrevendo every single day no blog. Arrasou!!!
Bjossss

Anônimo disse...

Ah, esqueci de assinar: Bô