quarta-feira, 28 de julho de 2010

Marcos Sacramento, Soraya Ravenle e Luís Filipe de Lima - Breque moderno


Quem ouviu o disco Memorável samba, de Marcos Sacramento, e prestou atenção à faixa "Esta noite eu tive um sonho", sabe que o cantor é bom no breque, canta muito e gosta de um disco bem produzido. Desta vez, acompanhado de Soraya Ravenle e escorado nos violões de Luís Filipe de Lima, Marcos lança novo disco, todo cheio de sambas de breque, todo cheio de bossa, mas com espaço para marchinhas e outros gêneros. Trata-se de Breque moderno, disco recentemente lançado pela Rob Digital, em que o cantor volta à seara da música antiga, dando vida nova a obras já quase relegadas ao esquecimento.

Mas o fato é que, embora o disco traga na capa o nome dos três artistas já citados, Marcos Sacramento toma conta de tudo! Não poderia ser diferente, já que se trata de um dos nossos melhores cantores, à vontade em um repertório que é a sua praia - ou pelo menos parece ser, de tão à vontade que ele soa -, acompanhado por arranjos que transitam entre o tradicional, o harmonioso, o criativo e o encantador. Não que a presença de Soraya não chame a atenção ou não seduza pela delicadeza. Chama, sim, claro. Seduz, sim, claro. Mas aconece que, ao lado de Marcos, qualquer um se ofusca, qualquer um parece ter voz pequena. E, admita-se, Soraya já esteve melhor em outros discos - como em O dono das calçadas (homenagem a Nelson Cavaquinho) ou em Sassaricando (o renascimento das marchinhas), por exemplo.

Entre uma composição e outra mais conhecidas - casos de "Tem que rebolar" (imortalizada pelo dueto-incêndio entre Ney Matogrosso e Elza Soares, apresentado na série Casa de Samba), "Recenseamento" (sucesso de Carmen Miranda recentemente gravado por Ná Ozzeti e Banda Glória), "Joujoux e balangandans" (obra imortal de Lamartine Babo, composto nos idos da era Vargas e eternizada pelo dueto entre João Gilberto e Rita Lee) e "Samba rasgado" (outra de Carmen, que ganhou sucesso pela interpretação de Gal Costa) -, acabam brilhando mais as pérolas menos óbvias. É assim que salta aos ouvidos "O relógio lá de casa", linda composição de Lupicínio Rodrigues (em parceria com Felisberto Martins), cantada no limite da perfeição por Marcos Sacramento. É assim também que ganha fôlego o "Samba no Nepal", obra de Jota Canalha (pseudônimo de Henrique Cazes) que supera de longe todas as que ele incluiu em seu primeiro disco, A voz do botequim. Sem falar na surpreendente "Águia de Haia", de extrema leveza e profundo sarcasmo, de autoria do próprio produtor do disco (em parceria com o sempre genial Nei Lopes) debochando da pompa acadêmica, da falácia balofa e da síndrome de Ruy Barbosa que às vezes acometem alguns. Sensacional!

No geral, Breque moderno é um disco delicioso. Sua assinatura tripla e seu conteúdo baseado predominantemente em regravações dá ao disco um caráter de projeto especial, de resgate histórico, de algo assim... não de um disco de carreira. Melhor, porque evitam-se as críticas quanto a repertório antigo, pouca inovação, falta de criatividade etc. Fica apenas a ideia de que se tem em mãos um disco especial, de produção enxuta porém caprichada, que, se peca em algum aspecto, peca por ser curto demais. A vontade é de se ouvir mais, de se continuar no clima nostálgico e bem-humorado das gravações.

Um comentário:

Cibele disse...

Tudo que o Marcos Sacramento faz, faz bem. Então não me surpreende.